Agropecuária acumula perdas de mais de R$ 250 milhões com secas e incêndios

Ocorrência do fenômeno climático El Niño aumentou os casos de fogo em lavouras

A falta de chuvas, os incêndios florestais e o impacto do desmatamento sobre o regime pluviométrico do país acarretaram prejuízos de mais de R$ 250 milhões para a agropecuária brasileira nos últimos anos. O levantamento faz parte do novo estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) e do projeto Amazônia 2030, divulgado nesta sexta-feira (10/10).

Em 2024, os incêndios queimaram mais de 30,8 milhões de hectares, representando um crescimento de 79% no comparativo anual, e afetaram cerca de 18,9 milhões de pessoas. Esse aumento expressivo tem sido associado à ocorrência do fenômeno climático El Niño.

Segundo o estudo, a perda decorrente dos incêndios foi de R$ 14,7 bilhões, sendo R$ 8 bilhões na pecuária e pastagem, e de R$ 2,7 bilhões em áreas de cana-de-açúcar.

“A Amazônia foi o bioma mais afetado pelos incêndios, o que foi impulsionado pelas chuvas abaixo do nível histórico. No Cerrado, 9,7 milhões de hectares foram queimados, o que significa um aumento de 47% em relação à média dos seis anos anteriores”, diz o relatório.

Na agropecuária como um todo, com base em dados de 2022, o estudo ressalta que apenas 13% da área agrícola do país contava com irrigação.

“Com isso, a agricultura brasileira se torna vulnerável a alterações nos regimes de chuva. De fato, perdas significativas têm sido observadas em razão da ocorrência de seca”, pontua.

Citando dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), o levantamento indica que, entre 2013 e 2022, o país registrou perdas de cerca de R$ 186 bilhões na produção agrícola e de R$ 64 bilhões na pecuária devido à escassez hídrica. Entretanto, de 2023 a 2024, novos episódios de seca ocorreram, o que sinaliza que os prejuízos podem ser muito maiores.

Rios voadores

Em geral, a floresta amazônica tem a capacidade de manter úmida a atmosfera tanto dentro quanto fora do bioma. A água transportada pelas correntes de vento que se originam no oceano Atlântico cai em forma de chuva ao chegar ao continente, formando os chamados “rios voadores”.

Em seu ciclo natural, a água da chuva penetra no solo e deságua nos rios que, por sua vez, a devolvem aos oceanos.

Quando a água da chuva cai em uma floresta tropical, parte dela é devolvida à atmosfera por meio da evapotranspiração, e quando correntes de vento atravessam a floresta, carregam essa umidade, que é redistribuída no caminho dos ventos em forma de chuva.

No entanto, de acordo com o estudo, a perda de vegetação causada pelo desmatamento faz com que a floresta perca a capacidade de recarregar a atmosfera, reduzindo o volume de chuvas ao longo do caminho dos ventos.

Esses danos causados aos rios voadores têm relação direta com a seca e os incêndios. Isso porque a redução do volume de chuvas resultante do desmatamento pode comprometer a capacidade da vegetação de resistir ao fogo.

Segundo a análise, os rios voadores também atravessam as principais regiões da agropecuária brasileira. “A interseção abrangente entre a trajetória dos rios voadores e as regiões da agropecuária evidencia os potenciais impactos do desmatamento sobre o setor”, alerta.

Neste contexto, os pesquisadores do CPI/PUC-Rio e do projeto Amazônia 2030 enfatizam que a redução do volume de chuvas decorrente do desmatamento, associada à baixa cobertura de irrigação, pode estar contribuindo para as perdas registradas pelo agro durante os períodos de estiagem.

Fonte: Globo Rural.

Em nosso Instagram

Outras matérias da IA

Você Quer Impulsionar Seu Negócio?

Fale conosco por meio de nossa página de contato